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A alma do Teláris

Depois de um certo tempo no mercado de livros didáticos, posso dizer que esse trabalho foi, de certa forma, um marco na minha carreira. Depois dele, recebi (e venho recebendo!) muitos pedidos de projetos gráficos com linguagem similar a dessa coleção. Decidi então contar um pouco como foi esse processo de criação, para esclarecer que projeto gráfico é só a tradução visual de um projeto editorial. Nesse caso, um projeto editorial consistente e objetivo.

O pedido chegou quase como outro qualquer: temos uma coleção completa de Fundamental II, autores líderes de mercado (leia na entrelinhas: pouco flexíveis!), estruturas diversas MAS... queremos colocar o conteúdo de cada volume sempre em 4 Unidades, com seções de abertura e fechamento. Não queremos firulas, nem excessos: apenas 2 tipos de boxes para contemplar hierarquias diferentes. Confesso que ADORO quando o pedido para didático chega assim, layout limpo abre muito mais possibilidades do que o rebuscamento, mas vejo com desconfiança porque a limpeza só dura até apresentar para o autor X ou o editor Y que gostaria que fosse mais colorido... e por aí vai. Mas nesse caso foi mesmo diferente. Ainda bem :)

Como sempre, iniciamos o projeto com a coleção sem nome. Elas quase sempre chegam sem nome e é bem difícil criar uma identidade sem ponto de partida para definição de um conceito, mas essa tinha algo diferente: a estrutura sempre amarrada em 4 unidades! Decidi ir por aí então e, claro, em tempos de livro digital, a linguagem deveria ser contemporânea.

O primeiro item a ser criado foi o pé de página: 4 bolinhas que se "iluminam" de acordo com o ponto do livro em que se está, explorando recursos do digital. Pensei em cada unidade ser representada por um ícone porque a faixa etária para a qual o material é destinado é muito familiarizada com esse tipo de linguagem e esse poderia ser o "charme" do projeto: é simples, é direto, sinaliza e é divertido. Realmente, a partir daí, não precisaríamos de muito! Já tínhamos elementos suficientes.

Sobre escolha de tipografias, é importante mencionar que nos didáticos temos que privilegiar a legibilidade e pensar que em uma coleção desse tamanho, vai aparecer de tudo. Então a escolha de tipos que, além de atender a essas demandas, ainda tenham personalidade deve ser feita de maneira bem cuidadosa. Queria algo diferente, fora do manjado FontFolio Adobe porque, já que o pedido era simplicidade teríamos que ser marcantes de alguma forma. E, nesse caso, pudemos comprar uma fonte escolhida a dedo para a coleção. Quis uma família de base que tivesse serifada e sem serifa, o mesmo desenho promoveria leveza. A fonte também é meio quadrada para remeter a um desenho tecnológico, logo contemporâneo.

Para os títulos, trabalhamos com uma parente da Bauhaus. O desenho é bem similar, porém com um charme extra no desenho dos caracteres. A Bauhaus não é contemporânea, é moderna, mas o desenho limpo e clareza de leitura são absolutamente insuperáveis. Outro ponto para a escolha dessa fonte é que ela tem bordas ora arredondadas, ora retas e compõe uma dupla bem harmônica com o desenho dos pictogramas que têm as mesmas características.

Estudo de cores: uma cor por matéria e uma cor de suporte, que seria sempre o mesmo amarelo. Não precisaríamos de mais que isso. E em 99% dos casos, realmente não precisamos de mais que isso. Excesso de cor confunde ao invés de sinalizar. O foco tem que ser no conteúdo e não se um box é amarelo, o outro azul claro, o outro azul médio e por fim um azul mais escuro. Isso pode estar muito claro na cabeça de quem fez projeto, de quem diagramou e de quem editou o livro, mas não na cabeça de quem vai usar o livro. Para o leitor o foco realmente tem de estar no conteúdo, ele precisa conseguir navegar por aquelas páginas sem tropeçar em nada.

Aberturas e fechamento de unidades: a primeira tem que sinalizar e chamar mais a atenção do que a segunda e precisam ser bem diferentes para não se confundirem, pois acontecem sequencialmente. Acredito que as aberturas de unidade sejam o momento da Arte, aquele momento de chegar para o seu leitor e dizer: "tá vendo isso que bonito? Vem cá que esse assunto vai ser super legal!". Pouco texto, imagens grandes e instigantes. A imagem não precisa estar integralmente exposta, ainda mais legal se for apenas um pedaço dela, isso aguça a curiosidade. Sim, estamos em um livro didático, mas leitura de imagem também deveria fazer parte do currículo escolar, não? Os autores de História não queriam abrir mão de determinado conteúdo neste momento e o que fizemos foi criar uma "pós-abertura" com o conteúdo que eles desejavam trabalhar. Resultado: Jabuti!

As páginas da seção de fechamento foram trabalhadas sempre na cor de suporte, o amarelo. Com algumas ilustrações a traço para deixar as páginas mais bonitas no caso das matérias que traziam apenas texto nessa seção.

Depois do projeto já pronto e produção rolando, chegou o nome da coleção que quer dizer entrelaçamento, cruzamento, por isso os 2 eixos que se cruzam na capa e os ícones que se sobrepõem deixando um transparecer o outro. Aliás, a capa e logo da coleção foram feitos utilizando-se apenas de elementos de miolo. As bolinhas que representam as 4 unidades, aparecem no logotipo. Ou seja, o logotipo aparece ao longo de toda a coleção "disfarçado" de sinalizador de unidades, reforçando a identidade.

Bem, a coleção se estende, há muito mais coisas. Cada matéria tem suas particularidades, mas a grande base é essa. E, sim, foi possível fazer uma coleção de 25 livros didáticos com identidade forte, usando apenas 6 cores e 2 famílias tipográficas! E esse foi o grande trunfo, se diferenciou pela simplicidade.

Enfim... só posso dizer que não adianta querer ser Teláris se não tem a alma do Teláris! E quando digo alma, incluo além do projeto editorial, uma equipe experiente e segura de si. A equipe confiou, defendeu a proposta e levou a ideia adiante com argumentos coerentes. Não tinha como dar errado.

By the way, nunca desenhei tanto! Foram 100 pictoramas só para as unidades, fora os reprovados, fora os pictogramas de boxes, seções e selos. Mas que valeu a pena, valeu ;)

Mais sobre: http://www.projetotelaris.com.br/

Fotos: ©deborabarbieri

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